Em material publicado em 2016, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) descreveu nove serviços que se aplicam ao cuidado farmacêutico (CFF, 2016). São eles:
1. Educação em saúde;
2. Rastreamento em saúde;
3. Manejo de problema de saúde autolimitado;
4. Dispensação;
5. Conciliação de medicamentos;
6. Monitorização terapêutica de medicamentos;
7. Revisão da farmacoterapia;
8. Acompanhamento farmacoterapêutico;
9. Gestão da condição de saúde.
Estes serviços farmacêuticos se destinam à promoção da saúde e do uso racional de medicamentos, além da otimização dos resultados com a farmacoterapia.
A avaliação da condição de saúde no cuidado farmacêutico pode ocorrer na sua promoção e também na identificação de problemas relacionados ao uso de medicamentos. Estes problemas podem ocorrer por inefetividade farmacológica, reações adversas, interações medicamentosas ou até mesmo respostas tóxicas. Em qualquer um destes casos a avaliação da condição de saúde do paciente é fundamental para o raciocínio clínico do farmacêutico e para a sua tomada de decisão e intervenção.
Condições de saúde se expressam por meio de sinais e sintomas apresentados pelo paciente. E estes precisam ser identificados e avaliados pelo farmacêutico, para a sua devida interpretação. Para este propósito é necessária a aplicação de princípios de semiologia.
A discussão sobre a aplicação da semiologia no cuidado farmacêutico vem ganhando espaço no âmbito profissional, e fora dele, desde 2013. A publicação das Resoluções CFF nº 585 e 586, que regulamentam as atribuições clínicas da profissão e a prescrição farmacêutica, respectivamente, abriram as portas para este debate.
A semiologia é uma prática clínica aplicada ao estudo, identificação e avaliação de sinais e sintomas no cuidado à saúde. É, portanto, base da prática clínica. Requer, muito além de habilidades, competências para a tomada de decisões rápidas e efetivas. É ferramenta fundamental na medicina, na enfermagem, na fisioterapia e no cuidado farmacêutico. E emprega como principal ferramenta o exame clínico, constituído pela anamnese, pelo exame físico e pela interpretação de exames clínicos laboratoriais e complementares.
De acordo com Pedroso et al. (2014), a semiologia farmacêutica “é uma nova prática profissional que visa a identificação de sinais e sintomas em distúrbios menores para posterior decisão terapêutica do medicamento isento de prescrição (MIP) mais efetivo e seguro”.
Para o CFF, a semiologia é uma área do conhecimento aplicada pelo farmacêutico no reconhecimento de necessidades e de problemas de saúde. Para isto, o profissional deve acolher a uma demanda ou queixa e selecionar as melhores intervenções em benefício da saúde do paciente. O propósito deste processo de cuidado é obter os melhores resultados possíveis em saúde, reduzir a morbimortalidade relacionada aos medicamentos e melhorar a qualidade de vida dos usuários dos serviços farmacêuticos (CFF, 2015).
O termo “semiologia farmacêutica”, de fato, ainda não está completamente consolidado nos meios profissional e acadêmico. O fato é que este conceito deve definir a aplicação de conhecimentos, habilidades e competências na identificação de sinais e sintomas no cuidado farmacêutico. Por isto, os objetivos dos serviços farmacêuticos devem ser muito bem compreendidos e direcionados na prática do cuidado em saúde.
Semiologia no cuidado farmacêutico não se destina ao diagnóstico de doenças. Mas sim à identificação e avaliação de condições clínicas que indiquem problemas de saúde ou problemas decorrentes do uso de medicamentos. Cabe ao farmacêutico clínico, com ética e segurança, decidir por intervir ou encaminhar o paciente a outro profissional.
Prof. Me. Lincoln M. L. Cardoso | Farmacêutico | CRF-SP 21.337
Referências:
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Resolução nº 585, de 29 de agosto de 2013. Regulamenta as atribuições clínicas do farmacêutico e dá outras providências.
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. Resolução nº 586, de 29 de agosto de 2013. Regula a prescrição farmacêutica e dá outras providências.
______. Curso on line: prescrição farmacêutica no manejo de problemas de saúde autolimitados: módulo 2: unidade 1: semiologia farmacêutica e raciocínio clínico. Brasília: Conselho Federal de Farmácia, 2015, 30 p.
______. Serviços farmacêuticos diretamente destinados ao paciente, à família e à comunidade: contextualização e arcabouço conceitual. Brasília: Conselho Federal de Farmácia, 2016. p. 62-63.
PEDROSO, T. M.; MASTROIANNI, P. C.; SANTOS, J. L. Semiologia farmacêutica e os desafios para sua consolidação. Revista Eletrônica de Farmácia, v. 11, n. 2, p. 55-69, 2014.